O homem olhava o casal na mesa ao lado. Os dois conversavam animadamente. Trocavam olhares, havia cumplicidade no ar. "São namorados", pensou o homem consigo mesmo, feliz diante de sua perspicácia. E riu.
*
Mas o moço não beijava a moça. Nem ela fazia nenhuma carícia mais ousada, explícita, que pudesse comprovar a suspeita. "Devem estar se conhecendo. Ainda não rolou, mas vai rolar", pensou consigo mesmo, satisfeito. E riu.
*
Os olhares de cumplicidade continuavam. A conversa parecia não ter fim. Havia carinho também, era vissível. Pediram um prato de filé com fritas. Dividiram-no. Ele passou-lhe um guardanapo sem nem ao menos ela pedir.
*
O homem cansou de olhar. Estavam paquerando um ao outro, estava claro. Era óbvio, bastava prestar atenção na linguagem corporal.
Pagou, então, a conta e foi embora, observando o último gesto da moça.
*
Os gestos
*
A moça levantou delicadamente a mão e, pronunciando algumas palavras inaudíveis, com um sorriso tentador, arrumou a mecha de cabelo atrás da orelha. O rapaz sorriu.
*
As palavras
*
- ... e ganhei esses brincos de mamãe.
- São lindos, titia tem muito bom gosto mesmo. Eu vou ficar devendo seu presente... tô liso. Mas assim que der...
- Há, deixa disso, primo, que besteira!
segunda-feira, 19 de julho de 2010
quarta-feira, 14 de julho de 2010
O FIM
Era uma consulta de emergência. Parecia um ataque provindo de alergia. A moça tinha os dedos inchados, o rosto vermelho e embargava a voz ao tentar falar.
O médico puxou o estetoscópio apressadamente, sentiu-lhe a respiração ofegante, fraca e pediu-lhe:
- Repita: liberdade.
A moça assustou-se. O médico insistiu:
- Vamos, repita: liberdade.
A moça tentou, quase sem levar a sério:
- Liiii...lib... libbberrrr... - Mas não conseguiu.
O médico percebeu que era mais sério do que parecia e que talvez precisasse agir mais efetivamente. Não queria perder a paciente.
Arrancou-lhe a aliança do anelar da mão esquerda e ordenou apreensivo:
- Fale, vamos, liberdade.
- Liberdade! - respirou, enfim, a moça.
... E assim o casamento acabou.
O médico puxou o estetoscópio apressadamente, sentiu-lhe a respiração ofegante, fraca e pediu-lhe:
- Repita: liberdade.
A moça assustou-se. O médico insistiu:
- Vamos, repita: liberdade.
A moça tentou, quase sem levar a sério:
- Liiii...lib... libbberrrr... - Mas não conseguiu.
O médico percebeu que era mais sério do que parecia e que talvez precisasse agir mais efetivamente. Não queria perder a paciente.
Arrancou-lhe a aliança do anelar da mão esquerda e ordenou apreensivo:
- Fale, vamos, liberdade.
- Liberdade! - respirou, enfim, a moça.
... E assim o casamento acabou.
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