Tem gente que não sabe, mas professor não sabe de tudo.
Durante um tempo disseminou-se a ideia de que os professores sabiam responder qualquer questão (denotativamente ou conotativamente, de prova ou do cotidiano). Acho que naquela época, eles deviam sofrer bastante, tendo que fingir o tempo todo. A sociedade pensava que 'bom' professor era aquele que sabia tudo, a quantidade de conhecimento que tinha (ou que fingia ter) é que era importante.
Hoje, graças a Deus, nós professores podemos dizer 'sem medo' que não sabemos tudo, mas nos esforçamos muito para saber bastante e aprender sempre. Apesar do salário, e do corre-corre, e do preço de livros e das mensalidades de cursos de capacitação, e da dificuldade de se fazer (depois de já se estar no mercado-de-trabalho) um mestrado ou doutorado em universidade pública...
Mas ainda há resquícios daquela forma de pensar nos atos de alguns pais e de alguns alunos hoje. Por exemplo, qualquer um pode errar a grafia de uma palavra. Professor, não. Seu texto precisa ser perfeito. Mesmo aqueles extremamente 'informais', que servem de desabafo. Professor não pode 'errar'. A pressão é tão grande que revisamos 'trocentas' vezes antes de divulgar. Outro resquício visível e sofrível, principalmente para os professores de português, é perceber que as pessoas, no meio de um bom papo, começam a gaguejar ou 'medir as palavras' quando descobrem sua profissão. Os discursos começam a ficar tão artificiais, que eu (por exemplo) perco até a vontade de continuar a conversa. Acredite, até o melhor professor de português não estará preocupado em catar erros na fala de ninguém durante uma conversa. Não trabalhamos em tempo integral. Professor é uma profissão, não uma anomalia genética.
Tão mais fácil que aceitássemos que professor é, apenas, alguém que gosta de estudar, que acredita nas certezas e dúvidas trazidas pelo conhecimento, que tem por objetivo levar outros a também descobrir o prazer de (se) descobrir. Tão importante encontrar colegas com quem pudéssemos compartilhar o ônus e o bônus da nossa profissão, sem competição.
Tão bom que pudéssemos ser vistos apenas como pessoas, ao menos às vezes.